Caros leitores, esta postagem inaugura um novo marcador: Autores!
Com este marcador pretendo conversar sobre os autores, para conhecermos um pouco sobre a obra e a vida desses seres que povoam a nossa imaginação com suas criações.
E, é claro, o escritor escolhido para inaugurar esse marcador foi o meu querido mestre José Louzeiro. Como disse anteriormente, conheci o escritor no primeiro curso de roteiro para cinema e TV que fiz. Eu estava interessadíssima em aprender como se escrevia uma história pensando nas imagens. Nunca esqueci uma das primeiras frases que ouvi de José Louzeiro: "Personagem no cinema é ação!" E é verdade. É com a imagem que mostramos o caráter das personagens e fazemos a narrativa andar. A criatividade está em escolher a melhor imagem para cada situação.
José Louzeiro prestigiou o lançamento do meu livro Sol, o girassol Insatisfeito.
Bem, mas vamos ao que interessa. Vamos conhecer um pouquinho sobre a vida e a obra desse contador de histórias, que pode transformar uma simples frase de um bate-papo informal em um romance cheio de ação.
Louzeiro, o contador de histórias
José Louzeiro nasceu em um distante subúrbio de São Luis, chamado Gamboa do Mato, no dia 19 de setembro de 1932. Teve uma infância difícil e de poucos recursos, seu pai era um pedreiro, seguidor do presbiterianismo. Mas sua avó sempre o orientava dizendo para nunca deixar de ler e estudar. Sábias palavras, pois fizeram do seu neto um dos mais pródigos escritores brasileiros. Louzeiro nos dava a mesma recomendação durante as aulas do curso de roteiro: "Quem não lê, não escreve", costumava dizer.
Mas como nada foi fácil na vida desse contador de histórias, quando cursava o quarto ano primário (como era chamado o ensino fundamental na época), sofreu um acidente que interrompeu seus estudos por dois anos. Esse fato acabou por ligá-lo definitivamente aos tipos mais marginalizados da sociedade.
Louzeiro havia sido desenganado pelos médicos, pois o acidente havia provocado uma ferida crônica em seu ouvido. Uma prostituta chamada Umbelina, inquilina de seus pais, se solidarizou com o problema e pediu que levassem o menino até sua casa numa certa noite, quando receberia um médico homeopata. José Louzeiro ficou curado e um sentimento de gratidão pelas pessoas que sentem a dor do outro invadiu seu coração. Esse sentimento o acompanha até hoje. Para ele, não importa a profissão e o nível social. O fundamental é o coração de cada um.
Ajudado pelo pai, conseguiu um emprego de mestre-de-obras e uma de suas funções era supervisionar o calçamento das ruas de São Luis. Esse trabalho era executado por presidiários. Na hora do almoço, costumava ficar ouvindo as histórias dos crimes contadas pelos próprios autores. Posteriormente, tudo isso serviu de base e inspiração para muitos de seus romances.
Começou a trabalhar na imprensa aos 16 anos, no jornal O Imparcial, como aprendiz de revisor. Aos 21 anos, veio para o Rio de Janeiro e foi trabalhar em O Jornal. Foi um período muito difícil de sua vida. O jornal costumava atrasar os salários ou mesmo não pagá-los e isso fez com que Louzeiro ficasse sem local para morar. Chegou a dormir em bancos de estações e praças, dependendo da caridade alheia até para comer. Mas ao dormir clandestinamente na Casa do Estudante do Brasil acabou conhecendo um grupo de intelectuais, com quem fez amizade. A partir daí, conseguiu um novo emprego e, em 1958, então com 26 anos, chegou a copidesque do importante jornal Correio da Manhã. Nesse mesmo ano, publicou seu primeiro livro, Depois da Luta.
Entre os anos de 57 a 64, Louzeiro trabalhou nos jornais O Dia, Luta Democrática, Diário Carioca, Última Hora, Tribuna da Imprensa, O Globo e O Radical.
Em 1975, lançou dois de seus livros mais famosos, Lúcio Flávio, o passageiro da agonia e Aracelli, meu amor. Este último foi apreendido pela Censura Federal e só foi liberado em 1981.
De 1976 em diante, José Louzeiro passou a se dedicar somente à literatura e com seus livros inspirados em acontecimentos policiais verídicos, popularizou o estilo do romance-reportagem. Neles, Louzeiro sempre procura denunciar as misérias da condição humana.
Louzeiro chega ao cinema
Versátil, Louzeiro usou sua experiência de repórter policial e romancista e trouxe sua mente criativa para o mundo do cinema. Escreveu vários argumentos e roteiros. Entre os mais famosos estão "Os amores da pantera", "Amor bandido", "Lúcio Flávio, o passageiro da Agonia", "O caso Claudia", "Pixote, a lei do mais fraco", "O Homem da Capa Preta", entre outros. Escreveu também novelas de sucesso, como Corpo Santo, de 1987, na extinta TV Manchete. Essa novela recebeu o Premio de Melhor Novela e Melhor Autor da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA).
José Louzeiro é um contador de histórias sensível e carismático, além de muito criativo. Certa vez, em uma de suas aulas discutíamos uma ideia para um novo roteiro, quando fiz um comentário: "Mestre, suas histórias mostram a dureza crua da vida, elas nos deixam com um nó na garganta, como se nem o choro conseguisse sair, tamanho o impacto que elas nos causam. Mas quando estamos ao seu lado ouvindo suas sugestões, suas experiências, você transmite uma doçura e uma ternura contagiantes". Ele sorriu com ar enigmático.
Nathalia Timberg na contracapa de um de seus últimos livros, Diabetes: Inimigo Oculto reafirmou com outras palavras a minha impressão: "José Louzeiro retrata bem o nosso cotidiano e é contundente sem perder a poesia".