Estava eu folheando o caderno escolar do meu filho, quando me deparei com a poesia que ele havia estudado naquele dia na escola. Foi uma grata e adorável surpresa! Que belos versos, que lembranças doces e cheias de saudade... As do autor e as nossas... Mas nada sofrido... É aquela saudade gostosa de quem viveu belos e bons momentos na infância. Não é um desejo de se voltar no tempo e sim de aproveitar tudo de bom que vivenciamos naqueles dias, para tornar o nosso presente o que o nome já diz: UM PRESENTE!
Diante da emoção que senti ao reler esta poesia, decidi compartilhar com o meu filho esse sentimento tão profundo. Na hora de dormir, eu peguei a poesia e disse que tinha adorado vê-la no seu caderno e, por isso, ia ler para ele novamente. E assim fiz. Ao final, percebi que os seus olhinhos estavam cheios d'água. Dei um sorriso e ele me disse: "Ai, Mãe, fiquei tão emocionado!" E eu mais ainda! Dei-lhe um beijo de boa noite e fizemos as orações agradecendo por tudo de belo que existe no mundo. Ele dormiu tranquilo e em paz. E eu também. Graças a Casimiro de Abreu e os seus versos tão lindamente escritos e inspirados!
Por isso, meus caros e queridos amigos leitores, vou transcrever para vocês o texto da belíssima poesia de Casimiro de Abreu, MEUS OITO ANOS.
MEUS OITO ANOS
(Casimiro de Abreu)
Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida.
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor,
O mar - é lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! Dias da minha infância!
Oh! Meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nem risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto o peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar,
Rezava às Ave-Marias
Achava o céu sempre lindo,
E despertava a cantar!
Oh! Que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida.
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!