Não existe coincidência. Já ouvi muito essa frase. Mas há algum tempo atrás, ela ecoou forte na minha cabeça. Um fato presenciado por mim, me fez refletir muito sobre a tão curiosa e inusitada coincidência.
Cheguei à empresa cedo como de costume. Cumprimentei o segurança de todos os dias com um simpático bom dia. Seu nome era Paulo. Mas naquele dia ele estava diferente. Estava sério, cerimonioso, distante. Ao contrário dos outros dias, parecia que não me conhecia. Era como se estivesse esquecido que convivíamos há quase 10 anos. Achei estranho e fixei o olhar em sua fisionomia e foi quando encontrei uma diferença. Apesar de praticamente idêntico, esse suposto Paulo era um pouco mais gordo. Pouca coisa. E pensei: "como alguém pode ser tão parecido com outra pessoa? Será um sósia?"
Comentei o fato com meu marido. "Vai ver eles nem são tão parecidos assim", disse ele displicentemente. Mas eu insisti. "São idênticos! Um deles, o que acabei de conhecer, é um pouco mais gordo!" Meu marido me olhou com aquela fisionomia, que eu conhecia muito bem e que parecia dizer: "Já entendi. Você vai investigar. Não vai desistir, não é?" Convivência faz isso. A pessoa consegue prever alguns padrões de comportamento característicos da pessoa. É, eu não ia desistir não. Mas nem foi preciso muito esforço.
A empresa em que trabalhava era grande, com vários prédios. Era comum as pessoas se encontrarem ao deixarem seus carros no estacionamento. No dia seguinte, por uma feliz coincidência (?), encontrei Paulo, o verdadeiro, quando me dirigia para o edifício sede. Após os cumprimentos, descobri que ele estava fazendo a segurança de um dos outros prédios. Decidi falar com ele sobre o ocorrido no dia anterior. Ele já tinha conhecimento do seu sósia. Os seus chefes perceberam a semelhança, quando o contrataram. Aliás, seria impossível não perceber. Foi, então, que tive uma grande surpresa com a história que ele me contou.
Paulo era filho adotivo. Sua mãe biológica teve filhos gêmeos e, devido as inúmeras dificuldades materiais, não teve condições de cuidar das duas crianças. Paulo acabou sendo entregue para adoção logo que nasceu. Cresceu e, já adulto, foi trabalhar como segurança. Depois de anos prestando serviço para essa empresa, soube da contratação de um rapaz da mesma idade, muito parecido com ele, chamado Falcão. Ambos ficaram curiosos e decidiram se encontrar. Logo de imediato perceberam a semelhança e ainda desconcertados com a situação, começaram a tentar a aproximação para desvendar o mistério de suas vidas.
"Sua mãe ainda é viva? Mora com ele?", perguntei. "Ainda não sei dos detalhes... Parece que ele foi criado por ela... Não tenho certeza... Ainda precisamos conversar mais... Só falamos que, talvez, fosse bom fazermos o teste de DNA... Mas é caro", ponderou, pensativo, Paulo, que não esboçava nenhum rancor ou mágoa. Ao contrário. Parecia um pouco atordoado, diante do inusitado da situação. Afinal, a história é incrível mesmo. Dois irmãos separados ao nascer, que escolhem a mesma profissão e acabam indo trabalhar no mesmo lugar! É, o destino, às vezes, nos prega peças...
O tempo passou e, pouco tempo depois, não vi mais Falcão. Ele saiu da empresa. Encontrei Paulo mais uma vez, mas a história com o seu provável irmão não tinha evoluído muito. O exame de DNA não foi feito. Dificuldades financeiras haviam impedido e, ao que parece, essas mesmas dificuldades, ou algum desconforto nesse encontro inesperado, haviam separado os dois prováveis irmãos. Novamente. Uma pena! As coincidências em suas vidas foram tão... FORTES!
Mas será que foi coincidência mesmo? Será que tudo isso não faz parte de um plano divino? Será que existe um destino traçado para cada um? Será que Paulo e Falcão irão se encontrar novamente? Ou tudo não passou mesmo de uma grande coincidência? Não tenho uma resposta concreta, mas como disse um famoso escritor: "Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que sonha nossa vã filosofia". Acho que ele tinha razão. Aliás, tinha não. TEM razão!