sábado, 14 de junho de 2014

Voluntários da Copa: disposição, dedicação e simpatia!

Nas últimas semanas, as vésperas da Copa do Mundo da FIFA, considerado um dos maiores eventos esportivos do planeta, tive a oportunidade de acompanhar nas redes sociais um ataque ferrenho a um time muito seleto. Essa equipe não pertence a uma nação específica. Nem torce para um único time. Não. Ao menos não neste momento. Eles são os Voluntários da Copa!

As críticas foram muito duras e utilizaram algumas palavras bem agressivas. Isso acendeu em mim um alerta e uma vontade enorme de conhecer essas pessoas, que mesmo sendo vítimas desses ataques virtuais, se dispuseram a trabalhar de graça em um grande evento internacional. Isso me intrigou bastante, principalmente porque vivemos em uma época em que lutamos pela aceitação das diferenças e respeito a individualidade. Mas como iremos conseguir isso, se não respeitamos as escolhas de cada um, seja em que campo for. Até concordo que discordar é necessário e produtivo. Mas respeitar as escolhas é fundamental. 

Diante disso, o Blog da Fátima Augusta decidiu pesquisar mais sobre o assunto e entender melhor como funciona o trabalho desses voluntários. Para isso, conversei com algumas dessas pessoas e descobri que no país do jeitinho e da vantagem, como cansam de alardear aos quatro ventos, ainda existem pessoas motivadas por outras razões. Este texto é o resultado dessa pesquisa, que se restringiu aos voluntários sediados no Rio de Janeiro. 


Existem dois tipos de voluntariado: o Voluntário do Brasil e o Voluntário da FIFA. Juntos, eles reúnem 14 mil voluntários aprovados, escolhidos entre mais de 151 mil candidatos inscritos. Desse número, mil são estrangeiros, divididos em maior número por colombianos (130), Franceses (82) e norte-americanos (81). O tratamento é o mesmo tanto para quem é do Brasil, quanto para os estrangeiros. Eles recebem transporte, refeição (no caso dos da FIFA) e uniforme para os dias de trabalho. "O carinho que temos com esse evento é representado por eles. Eles são o rosto e o coração do evento", afirma Rodrigo Hermida, gerente dos voluntários da Copa.

Rodrigo Hermida, gerente dos voluntários da Copa.


O Voluntário do Brasil fez seu cadastramento e inscrição através do PORTAL BRASIL VOLUNTÁRIO, cuja gestão ficou a cargo da Universidade de Brasília (UnB). O Voluntário da FIFA, como já indica o próprio nome, fez sua inscrição no próprio site da FIFA.

Existem muitas diferenças entre esses dois tipos de voluntariado, mas as que considerei mais relevantes foram o número de horas trabalhadas e os locais onde esses voluntários podem atuar. 

O Voluntário do Brasil trabalha quatro horas por dia e pode escolher a data e o horário no próprio site. Ele não trabalha no interior dos estádios e o seu treinamento foi feito à distância e presencialmente, divididos em quatro módulos cada. 

Nos treinamentos à distância, via web, os inscritos conheceram um pouco da história do futebol, os biomas brasileiros e os principais parques das cidades onde acontecem os jogos da Copa. Receberam também, treinamento de primeiros socorros, incluindo controle de multidão em pânico, uso de extintores, combate a incêndios de pequeno porte e, por fim, mobilidade urbana.

Um dos quatro módulos do treinamento presencial incluiu também os primeiros socorros, sob a orientação do Corpo de Bombeiros. Os demais foram Interação e Dinâmica, visando conhecer os voluntários e como eles devem se comunicar, quando não souberem o idioma da pessoa que o abordar, além de Palestras sobre Turismo e Mobilidade Urbana. No final foi realizada uma mini campanha de vacinação dos voluntários, que incluiu a imunização contra a Hepatite B e Gripe. Foram dois treinamentos realizados na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e dois na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

Durante os treinamentos presenciais, os voluntários do Brasil receberam lanches e nos dias de trabalho recebem, além da passagem, o Kit Voluntário, que inclui uniforme, sacola com alimentos orgânicos e crachá de identificação.

Voluntário da FIFA


Com o lema Juntos em um só ritmo, o Voluntário da FIFA faz provas de inglês, espanhol e conhecimentos gerais e é entrevistado por psicólogos. Os aprovados também realizam treinamentos à distância e presenciais. O primeiro aborda temas como o que é ser um voluntário, a história da Copa, as diferentes formas de abordagem e o que anda muito em voga atualmente, sustentabilidade.

O segundo, presencial, realiza cinco encontros com o objetivo de colocar em prática tudo o que foi ensinado via web, através da simulação de situações de atendimento, palestras educativas, entre outros. Não há treinamento de primeiros socorros, pois há um outro grupo responsável por isso. O Voluntário da FIFA trabalha dez horas, sendo uma hora destinada ao almoço, que é fornecido pela entidade, além de lanche e água. Esse voluntário pode trabalhar dentro dos estádios e neles encontra uma infraestrutura completa, como chapelaria para guardar os pertences, refeitório e sala dos voluntários, localizados no antigo Maracanãzinho. Deve chegar duas horas antes da abertura do estádio e pode vir uniformizado ou se vestir no local de trabalho. O uniforme é composto de tênis, meia, casaco, boné, calça que vira bermuda nos dias quentes, blusa e mochila.

Bem, mas agora chegou a hora de conhecermos alguns desses voluntários e saber o que os motivou para esse tipo de trabalho.


Mateus Castro, 20 anos, Voluntário do Brasil.
O primeiro voluntário que conversei foi o Mateus Castro, 20 anos, estudante do terceiro ano de engenharia. Mateus estuda em tempo integral, fala inglês e o futebol é o seu esporte favorito para assistir. "Para praticar, sou melhor no basquete", avisa. Mateus é um Voluntário do Brasil e vai trabalhar durante onze dias em duas estações do Metrô Rio. "Serão seis dias em uma e cinco em outra e não podemos trabalhar mais do que quatro horas", destaca. Questionado sobre o que o motivou a procurar esse trabalho, Mateus diz que sempre quis ter o registro de um trabalho voluntário, inclusive porque isso lhe garante horas complementares no seu currículo universitário. "Também quero ajudar o turista e praticar meu inglês", acrescenta. Sobre não receber nada, Mateus diz logo: "se é voluntário..." e complementa: "mega eventos internacionais sempre contam com a participação de voluntários, mas como está acontecendo no Brasil, as pessoas acham errado. A África do Sul, que é um país tão ou menos desenvolvido que o Brasil, contou com a participação de milhares de voluntários", lembra.

Mateus, pronto para o trabalho.

Sobre as críticas sofridas nas redes sociais, Mateus diz que não se incomodou e se mostrou até bastante compreensivo. "É a visão dos caras... Eu até entendo... São tantas denúncias... As pessoas estão tão acostumadas a ver o sistema contra elas, que acham errado o voluntariado não receber nada em um evento que rola muito dinheiro, mas essas opiniões não me incomodaram ou influenciaram", conclui firme.








Ângela Cruz, advogada, voluntária da FIFA.
Ângela Cristina de Carvalho Cruz tirou férias para trabalhar como Voluntária da FIFA. Advogada, torcedora do Vasco, mas não fanática, gosta de futebol só na Copa do Mundo. "Gosto de vários tipos de esporte, menos de luta. Natação e saltos ornamentais são os meus preferidos. Pratiquei por mais de quinze anos. Hoje, meu esporte predileto é andar de bike", conta a voluntária, que fala inglês e espanhol.

Ângela descobriu esse trabalho por acaso. Estava assistindo TV, quando viu a chamada convocando os interessados e pensou: "por que não?" Fez o seu cadastramento, recebeu o e-mail de confirmação e começou a participar do processo. Durante a dinâmica de grupo, a candidata percebeu o entusiasmo dos presentes, muitos já haviam sido voluntários em outros eventos. "Ah, isso deve ser muito bom. Quero participar! Eu vi as pessoas felizes por estarem ali. A energia é muito boa", lembra feliz, acrescentando que é "um momento histórico do nosso país". 

Sobre suas motivações para participar do evento como voluntária, Ângela enumera várias. "Ajudar o próximo, as pessoas, para que tudo aconteça com excelência de qualidade, saber como funciona um grande evento nos bastidores, exercitar meus idiomas e fazer novas amizades". A voluntária conta também, que os trabalhadores devem seguir algumas regrinhas básicas para o bom andamento do serviço, como não tirar foto, não pedir autógrafo e não sentar durante os jogos, apenas nos horários permitidos para descanso. Sobre as críticas veiculadas nas redes sociais, Ângela é categórica: "nunca me incomodaram".



Angélica Tinoco, 18 anos, desistiu do trabalho.

Angélica Tinoco, 18 anos, estudante do primeiro período de Comunicação Social, se cadastrou como Voluntária do Brasil pensando que seria voluntária da FIFA. Só mais tarde descobriu a diferença. Com inglês e espanhol fluentes, Angélica viu a oportunidade para praticar os idiomas com nativos de ambas as línguas como um dos pontos fortes do voluntariado. "Conhecer outras culturas, lidar com outro tipo de pessoa e a grandiosidade do evento nos dá uma experiência curricular muito grande, além das horas de trabalho contarem como estágio para a faculdade. Tudo isso junto foram pontos fortes, que me fizeram querer participar do trabalho", conta Angélica, que participou de todos os treinamentos, segundo ela, muito bons. "Quanto a isso, fiquei muito satisfeita! Mas o final me desapontou. Eu já imaginava que não ia ficar dentro do estádio, mas eu queria ficar no Centro Aberto de Mídia ou no entorno do estádio, só que esses lugares não estavam mais disponíveis, quando tentei agendar as minhas datas para trabalho", conta desanimada, acrescentando que trabalhar nas estações do Metrô nunca lhe interessou. "Eu moro na Taquara, não tem Metrô, é distante. Ia ser muito desgastante! Eu já estou servindo de voluntária e eles não levaram em consideração a minha escolha, desvalorizaram minha dedicação... Fiquei frustrada!", reclama aborrecida.

Sobre as críticas virtuais, Angélica não se incomodou. "Ninguém me obrigou. E a carga de novidades que eu ia ter, a experiência de vida que eu ia ganhar, em vez de ficar parada em rede social criticando os outros, não tem preço. Eu me inscrevi porque eu quis. Tivemos muitas palestras legais, com os bombeiros, com o pessoal do Metrô, todos foram ótimos!", avalia a estudante, acrescentando que pensava encontrar mais jovens entre os voluntários. "Pelo menos na minha turma tinham mais pessoas em torno dos 30, 40 anos. Achei isso um ponto negativo", avalia a voluntária, que acabou não agendando nenhuma data ou local para trabalhar.


Luiz Antonio, 20 anos, voluntário da FIFA.

Luiz Antonio Martins Dias de Azevedo, 20 anos, estudante do terceiro ano de engenharia, foi o último voluntário que conversei. Ele fala inglês fluente e adora futebol. "É o meu esporte favorito, tanto para jogar quanto para assistir", diz o estudante, acrescentando que gosta de quase todos os esportes, principalmente basquete, tênis e vôlei. Ele é Voluntário da FIFA e vai trabalhar durante dez horas em cada jogo dos sete, que acontecerão no Maracanã. O estudante também foi contagiado pelo clima de euforia durante o treinamento. "A galera já se conhece de outros eventos e estavam todos muito animados", revela.

Apesar do tempo dedicado aos treinamentos, Luiz Antonio não se arrepende de ter se inscrito para trabalhar. "Mesmo perdendo alguns finais de semana, o trabalho é muito bom para praticar o idioma e conhecer outras pessoas. Mas, acima de tudo, é a Copa do Mundo, o maior evento de futebol! Eu quero fazer parte disso", afirma com convicção, apesar de achar que o voluntário podia receber alguma coisa pelo trabalho. "Como a FIFA vai ganhar bastante dinheiro com o evento, ela poderia pagar, não muito... Mas, mesmo assim, eu queria participar", garante. 

Sobre as críticas ao trabalho voluntário veiculadas nas redes sociais, Luiz Antonio é compreensivo. "O pessoal está meio certo em falar, porque é muito dinheiro que rola. Mas para mim, o dinheiro não ia fazer diferença, não ia ser importante. Eu QUERO participar", finaliza convicto.

terça-feira, 3 de junho de 2014

MIRIAM LEITÃO: Escritora revelação 2014!

A jornalista Miriam Leitão recebeu o prêmio de escritora revelação no último dia 28 de maio de 2014, na abertura do 16º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens. Conhecida e reconhecida por sua atuação na área do jornalismo econômico, com vários prêmios recebidos ao longo da sua carreira, a mineira de Caratinga resolveu investir na literatura infantil e já começou com o pé direito. Seu livro, A perigosa vida dos passarinhos pequenos, ilustrado pelo artista plástico Rubens Matuk, surpreendeu e garantiu a escritora a premiação logo na estreia no gênero.




O Blog da Fátima Augusta conversou com a escritora na FLIST, Feira Literária de Santa Tereza, onde Miriam contou a história desses pequenos, belos e frágeis habitantes da floresta para a criançada presente ao evento, e também para o público adulto, antigos fãs da autora, ansiosos por conhecer a nova faceta da escritora. O encontro aconteceu no espaço Aquário Literário, estrutura transparente montada no meio da área do Castelo em ruínas e diante da bela paisagem do simpático bairro de Santa Tereza.

Miriam aguarda o início do evento da FLIST.

Miriam é dona de uma fazenda em Minas chamada Brejo Novo e foi lá que nasceu a inspiração para este primeiro livro dedicado ao público infantil. Foi lá também, que a jornalista observou como o desmatamento afeta a todos de uma maneira geral, mas principalmente aos pássaros mais pequenos, que não tem onde fazer seus ninhos. E esse é o ponto de partida dessa história, que foi contada primeiro para a neta mais velha, Mariana, na época com sete anos. A menina aprovou a história de imediato e fez com que a avó decidisse investir no seu "lado fofo", como costuma classificar esse momento criativo.

Miriam fez questão de ressaltar durante toda a apresentação na FLIST a importância da preservação ambiental e explicou para as crianças que a sua fazenda é também uma reserva ecológica. "A fazenda é minha, mas também é uma reserva ambiental. Não podemos cortar nenhuma árvore e já conseguimos resgatar várias espécies características da Mata Atlântica", explicou. Uma das crianças presentes se empolgou e disse: "Estamos estudando a Mata Atlântica na minha escola!" Simpática e feliz com a receptividade, Miriam seguiu despertando o interesse das crianças ao falar do ataque dos pássaros maiores aos ninhos dos mais pequenos.

Crianças atentas à contação da história.



Miriam conversa com o seu público mirim.


















Segundo livro infantil chega às livrarias

No encontro, Miriam aproveitou para contar que já tem outros livros prontos para mostrar ao seu novo público. Um deles foi lançado recentemente. A menina de nome enfeitado, ilustrado por Alexandre Rampazo, conta a história da menina Nathália, que acaba de entrar no mundo da leitura e implica muito com a letra "H". No livro, de forma bem-humorada, Miriam demonstra como o "H" pode ser muito importante nas palavras em que está presente.

A autora apresenta o novo livro, A menina de nome enfeitado.



Capa do segundo livro infantil da autora.


Miriam avisou também, que lançará, em breve, um livro sobre racismo. O tema despertou o interesse dos adultos e das crianças presentes. Alguns adultos, que se apresentaram como integrantes de famílias multirraciais, quiseram saber como a autora pretendia tratar o assunto e um deles chegou a levantar a questão do racismo entre negros e brancos ser, muitas vezes, uma via de mão dupla. De forma seca e objetiva, como estamos acostumados a vê-la, Miriam disse que "é preciso tratar essa questão priorizando aqueles que ainda permanecem sendo discriminados. O sofrimento é muito maior do lado deles", afirmou, com ar sério. Mas a seriedade logo desapareceu e um leve sorriso voltou a estampar o rosto da autora, quando uma das crianças presentes levantou a mão e pediu a palavra com ar grave. "Eu acho que você deve ter muito cuidado com essa história, porque é um assunto muito delicado", sugeriu o fã mirim, deixando a autora impressionada com a preocupação da criança. "Pode deixar que eu vou tratar o assunto com bastante cuidado", concluiu a escritora.

No final do encontro, Miriam recebeu o carinho do seu novo público. Confiram abaixo alguns desses momentos:

Antes do autógrafo, pausa para uma foto.





















O Blog da Fátima Augusta aproveitou também para registrar, conversar e 'tietar' a autora no evento: