A turma do escritório estava em polvorosa. A Mega Sena da virada do ano estava oferecendo um prêmio milionário. Conversa vai, conversa vem, decidiram fazer um bolão. Pra quem não sabe, bolão é quando várias pessoas se unem para jogar, onde cada participante preenche um cartão com os números que acha que serão sorteados, aumentando assim as chances de ganhar. Se um dos cartões do bolão apresenta as combinações sorteadas, o prêmio é dividido entre todos os participantes.
A ideia é boa, solidária e divertida. Só tem um detalhe. Eu não gosto desses jogos. Não acredito muito neles. E foi aí que a pressão começou. Frases do tipo: "segunda-feira você vai trabalhar sozinha", "tem certeza?", "eu pago a sua parte, mas você tem que participar". Um dos meus colegas de trabalho lembrou até do dia em que fui parada na rua por uma pessoa que me entregou um desses boletos, insistindo para eu jogar. "É pra jogar mesmo", exigiu o transeunte. Eu disse "ok, pode deixar", mas confesso que não fiz o jogo. Esse meu amigo ficou bravo e disse que eu deveria ter jogado, pois o boleto me foi enviado por alguém "lá de cima". Minha resposta: "então, eles poderiam ter mandado o boleto já preenchido, com os números escolhidos, não acha?", questionei. Tentativa inútil. Ele estava certo de que a entrega daquele papel tinha algo de "divino".
Enfim, não tive sucesso em minhas ponderações. Colocaram um boleto sobre a minha mesa e ordenaram: "marca esse aí". Bem, já que era só colorir de preto os quadrados com os números escolhidos, fui em frente. Quando terminei, resolvi fotografar o tal boleto para registrar o momento histórico em que fiz um jogo da Mega Sena. Pronto! Fiz a minha parte. Alimentei o sonho da riqueza dos meus 15 colegas de trabalho. Devo dizer que até achei divertida a brincadeira.
O último dia do ano chegou e às oito da noite começou o sorteio dos números. Eu estava no banho nessa hora. Meu marido, que havia feito um cartão, e meu filho ficaram acompanhando. Ele acertou três números. Tristeza. Nenhum prêmio para quem acerta somente três números. Meu filho perguntou se eu não iria conferir o meu jogo. Disse em tom de brincadeira: "como ninguém ligou ou mandou mensagem, acho que não ficamos ricos não. Vamos jantar e amanhã eu confiro". Assim eu fiz.
Pela manhã, após o café da manhã, decidi dar uma olhada, despretensiosamente. Comecei a conferência. Acertei um, dois, três, quatro números! Como sou completamente ignorante no assunto, perguntei: "quem acerta quatro números ganha alguma coisa?" Meu marido disse que sim e perguntou o motivo do questionamento. Contei a ele. "Sério? Temos que saber de quanto é o prêmio!" Essa é a parte mais fácil, é só pesquisar na internet. Achei! A quadra estava pagando aos inúmeros ganhadores pouco menos de quinhentos reais. "Que interessante", pensei. Peguei meu celular e comecei a avisar aos participantes do bolão. Minha mensagem para eles: "gente, acorda! Ganhamos a quadra!" O aplicativo de mensagens ficou "bombando". Todos queriam saber de quanto seria o prêmio. Nada substancial. Trinta reais para cada um.
Desânimo, tristeza... Afinal, ninguém ia poder fazer mais aquela viagem por algum paraíso afrodisíaco, ou comprar aquele iate, carro, apartamento dos sonhos... Nada disso. Segunda-feira todos teriam que continuar as suas rotinas, trabalho, casa... Mandei mensagem de incentivo: "gente, pelo menos, cobriu o investimento e ainda dá para tomar alguns sorvetes nesse janeiro escaldante do Rio de Janeiro". "É", responderam alguns pouco empolgados. Outros nem isso. O silêncio foi a resposta mais contundente.
Sabe, eu realmente achei que comecei o ano bem. Vou aproveitar meu primeiro dia de férias com mais trinta reais no bolso. Vou comprar os sorvetes que falei. De verdade. Agora, fiquei com uma dúvida. Vocês acham que eu devo seguir jogando? Aquele meu amigo garante que sim. "Não se pode jogar fora a sorte!", diz ele categórico. Será??? Prometo pensar nisso quando voltar das férias. Prometo...