quarta-feira, 5 de abril de 2017

ILHA GRANDE: retorno ao paraíso

Visitei a Ilha Grande pela primeira vez há 30 anos... 


Conhecida pela sua estonteante beleza natural, a Ilha abrigava na época um presídio para detentos de alta periculosidade. Pousadas ou hotéis eram escassos, enquanto acampamentos pouco estruturados povoavam a ilha. Eu fiquei acampada, junto com outros barraqueiros, no quintal da casa de uma moradora, na Praia de Abraão, onde chegavam as barcas vindas de Mangaratiba, único porto do continente que mantinha uma linha regular de transporte para a Ilha. Esse transporte era lento e com horários irregulares.


Este ano resolvi visitar a Ilha Grande novamente e encontrei algumas coisas muito diferentes. Mas não muito... A beleza continua... Exuberante!!!

No barco a caminho da Ilha: "Terra à vista!"

Praia na Vila de Abraão.


Opções diversificadas

Hoje, podemos chegar até a Ilha partindo de três pontos diferentes: Mangaratiba, Conceição de Jacareí e Paraty. As embarcações são mais rápidas, exceto as que saem de Mangaratiba, que ainda mantém o estilo de outrora. 
Eu, particularmente, preferi partir de Conceição de Jacareí, por vários motivos, como por exemplo, o maior número de opções de horários e o tempo do percurso, que dura cerca de 20 minutos. Quem vai de carro até lá pode estacionar próximo ao cais de Conceição e efetuar a reserva e o pagamento antecipado pela internet. É só levar o voucher no dia. A chave permanece com você, o que significa que, ao retornar, o seu carro estará no mesmo lugar onde você o deixou. 

Carro estacionado, bagagem em mãos, é só partir rumo ao cais. Isso é um dado importante: não devemos levar bagagens muito pesadas ou difíceis de carregar. O ideal é levar o que nós mesmos podemos dar conta. Não existe nada muito elaborado, como por exemplo, um carrinho para levar as bagagens até o cais. Mesmo no embarque, não há nenhuma "ajuda" por parte dos profissionais da embarcação. Fiquei observando e pensei imediatamente nas pessoas mais idosas, com uma mobilidade mais reduzida e que também gostariam de aproveitar as belezas naturais. Essa parte do transporte não é muito acessível e preparada para receber o público da terceira idade. Levar pouca bagagem também ajuda durante a travessia, já que não existe um compartimento para elas. Então, o ideal é que possamos deixá-las no colo ou o mais próximo de nós, o que muitas vezes atrapalha a passagem dentro da embarcação. 

Como fui no alto verão, o calor é... Soberbo! Você torce para a embarcação partir logo, pois o vento durante o trajeto alivia a sensação térmica de sufoco. E que vento!

Na chegada a Ilha, desci na Vila de Abraão. Por sorte, escolhemos uma pousada bem próxima ao cais. Assim não precisei caminhar muito com as bagagens, porque por mais que você limite o número de seus pertences, viajar com criança, sempre faz com que tenhamos que aumentar esse limite.



Hospedagem

Por onde andamos na Ilha Grande encontramos pousadas. Que diferença de 30 anos atrás!  O local onde acampei no passado está em obras e também vai virar uma pousada. Mais uma, entre as tantas que já existem e ficam lotadas em determinadas épocas do ano. Para quem aprecia o luxo, isso não existe na ilha. Luxo mesmo ali é a natureza. É como se os acampamentos daquela época tivessem se sofisticado. Tudo é muito simples e rústico, adequado à simplicidade da vida em uma ilha. Só um aviso importante, principalmente para os alérgicos: é bom não esquecer o repelente, pois mosquito é o que não falta por lá. E em tempos de Dengue, Chikungunya e Zica, todo cuidado é pouco.

Toda a vida dos moradores da ilha é, basicamente, voltada para o turismo. O burburinho do comércio fica concentrado na Vila de Abraão, onde encontramos lojinhas de souvenirs, restaurantes e afins. E, por falar em comida, me lembrei dos preços, que são um tanto quanto "salgados". Até porque os moradores da ilha têm que fazer "caixa" para o período das chuvas, quando a visitação à Ilha cai assombrosamente. Muitos trabalhadores diretamente ligados às atividades turísticas têm que procurar emprego nesse período de "seca molhada" no continente. Para os moradores da Ilha Grande, seria bom que fosse verão o ano inteiro.

Passeando pela Ilha

Existem vários passeios para se fazer na Ilha Grande. A maioria marítimos. Uns nos levam para dar uma volta completa pela ilha, com paradas em várias praias. Outros só fazem meia volta. Outros ainda levam a algumas ilhotas vizinhas. Todos, contudo, nos fazem conhecer praias belíssimas de águas cristalinas. O transporte pode ser feito em pequenos botes para poucas pessoas, em lanchas com uma capacidade um pouco maior e mais rápidas, ou em grandes barcos que levam grupos com maior número de pessoas. Nas embarcações de pequeno porte é possível ter mais tempo para desfrutar das praias nas paradas. Nas embarcações maiores esse tempo é reduzido devido ao maior número de pessoas participantes. 
Existem também os passeios por terra, bom para aqueles que amam fazer trilhas e caminhadas mais radicais pela mata, com o apoio de um guia local. Sobre esses não tenho muitos detalhes, pois não me aventurei por nenhum deles. A caminhada mais intensa que fiz foi pelo Parque Estadual da Ilha Grande (vejam mais detalhes abaixo).



Infraestrutura da ilha: para o morador!

Caminhando pela Ilha Grande, resolvi conversar com alguns moradores e conhecer um pouco mais da rotina de quem faz da ilha o seu lar e não está apenas de passagem, usufruindo da natureza exuberante.

Logo de cara, a primeira reclamação é a falta de luz, muito comum por lá. Aliás, em uma noite de chuva, eu pude vivenciar a questão. Quem não tem gerador, fica mesmo as escuras nessa ocasião. 

Vista da janela do meu quarto: noite de chuva e falta de luz.


Noite de chuva sem luz.

























A Ilha Grande é o terceiro distrito de Angra dos Reis. Praticamente tudo o que precisam vem de lá. Na Ilha existe apenas uma farmácia, uma escola municipal, que segundo moradores, o ensino é "muito fraco", e um posto médico. Os casos mais graves são encaminhados para o hospital em Angra. É acionado o transporte e a vítima deve aguardar a chegada do barco para realizar o trajeto até o continente. 
Por falar em transporte público, a gratuidade é garantida aos moradores somente nas embarcações que seguem para Mangaratiba, que eram as únicas linhas regulares no passado. 
Em conversa com o gerente da pousada, o jovem Renan, descobri que, em breve, sua esposa grávida irá para a casa de parentes fora da ilha. "Não há condição de ficar aqui para a hora do parto. A assistência é precária", avalia, cuidadoso. Como ele tem que continuar trabalhando, Renan pretende se dividir em idas e vindas entre a ilha e o continente para poder curtir a família e manter o trabalho. Ele não descarta, contudo, a possibilidade de partir de vez por conta da chegada do filho e procurar alternativas de trabalho fora da ilha. "O ensino aqui é muito fraco, só tem uma escola. Quero poder proporcionar uma oportunidade melhor para o meu filho", planeja.


Única escola da Ilha da Grande.











Fachada da Escola Municipal Brigadeiro Nóbrega.

















Precariedade dos serviços públicos

Mas não é só em termos de saúde e educação que as oportunidades são limitadas na ilha. Outros serviços públicos, como a coleta de lixo, por exemplo, também são precários. É comum observarmos montanhas de lixo acumuladas em vários pontos da vila de Abraão, o que causa mau cheiro e a proliferação de insetos. Volta e meia acontecem mutirões de limpeza e o lixo é recolhido, mas a verdade é que não existe um planejamento e uma ação efetiva para resolver de vez o problema. As autoridades não parecem muito preocupadas com isso. A crise do estado do Rio de Janeiro é justificativa para tudo, até mesmo para a não realização de nova licitação para escolha de uma nova empresa para realizar o serviço. O contrato com a atual, Limppar, terminou em janeiro. Mesmo assim, amparada por uma liminar, a empresa continua em atividade, mesmo precariamente. Apesar do TCE (Tribunal de Contas do Estado) ter determinado uma nova licitação, o processo pode demorar de três a seis meses. 



Lixo acumulado no caminho que leva ao Parque Estadual da Ilha Grande.

Mais lixo acumulado no terreno em frente a escola.















Enquanto isso, os moradores vão se virando como podem, principalmente para não afastar os visitantes da ilha. No local encontramos a Brigada Mirim Ecológica, que procura conscientizar os moradores sobre o cuidado que se deve ter com o lixo. 


Cartaz com orientações sobre o tempo de decomposição dos materiais na natureza.













Difícil escolha: água doce ou salgada?

Apesar de ficar lotada em várias épocas do ano, caminhar tranquilamente pela ilha é sempre um prazer. Longe do burburinho da Vila de Abraão conseguimos encontrar lugares relaxantes e tranquilos. Apenas por alguns minutos, até outros visitantes encontrarem também o mesmo local. 

Além da imensidão do mar de água salgada a sua volta, podemos nos refrescar também nas geladíssimas águas das cachoeiras, cujo acesso a pé pelo Parque Estadual da Ilha Grande garante um estreito contato com a natureza e a apreciação de paisagens belíssimas. 

Uma das cachoeiras mais famosas é a da Feiticeira. Para chegar até lá é preciso caminhar por dentro do Parque, por pouco mais de uma hora, em terreno íngreme. Mas quem não aguentar o exercício até o fim, ao longo do caminho pode se deliciar nas refrescantes piscinas naturais formadas pelas mesmas águas doces e igualmente geladas da Feiticeira, que descem através da montanha verde. 
Cansados da caminhada e sentindo muito calor, encontrar essas piscinas naturais é como mergulhar em um paraíso. Sensação revigorante! Vale a pena!


Entrada do Parque Estadual da Ilha Grande

Água gelada e refrescante! Maravilha em dias quentes.

Descoberta da piscina natural durante a caminhada. Tudo de bom!!!
























Durante toda a minha estadia na ilha, não percebi ou presenciei problemas de segurança, como assaltos. Conversando sobre o tema com moradores, alguns me relataram que já houve uma tentativa de arrastão tempos atrás. Mas, para felicidade de todos, os próprios moradores coibiram e impediram esse tipo de prática. Afinal, se a Ilha vive do turismo sazonal, não pode dar-se ao luxo de permitir tais práticas em ambientes tão restritos. Afastaria os visitantes e dificultaria ainda mais a vida de quem vive na ilha e tem no turismo a sua fonte de renda. 

A viagem chegou ao fim. Valeu a pena mais uma vez estar nesse lugar, desfrutar dos passeios por águas cristalinas e vegetação densa. Se você gosta do contato com a natureza e não se importa de abrir mão de pequenos "confortos" a que estamos acostumados no dia a dia, visitar a Ilha Grande é, certamente, um passeio maravilhoso!

A seguir, mais algumas imagens dos belos locais visitados na Ilha Grande e no seu entorno.


















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