quinta-feira, 28 de março de 2013

Mentiras da Internet: saiba como se prevenir.

Não há quem nunca tenha recebido em seu correio eletrônico uma mensagem pedindo ajuda para divulgar a foto de uma criança desaparecida ou muito doente. Essas mensagens se espalham pela rede em uma fração de segundo. Algumas prometem até dar dinheiro para a família da suposta vítima de uma doença terrível. Outras pedem, simplesmente, uma divulgação maciça para todos os contatos. O que você faz? Encaminha imediatamente a mensagem para ajudar a quem precisa? Ou você procura checar as informações antes de enviar? É, eu sei. Na maioria das vezes, você encaminha a mensagem acreditando estar fazendo a sua parte, não é mesmo? Mas será que essas mensagens são verdadeiras? Ou será que existe algo por trás de uma mensagem como essa, que se utiliza da boa vontade das pessoas? Para tentar entender melhor o assunto e separar o joio do trigo, o blog da Fátima Augusta resolveu conversar com um especialista no assunto e ele avisa que "grande parte dessas mensagens são falsas".

Motivações

O engenheiro e especialista em prevenção a fraudes, Cliff Jordan, explica que são várias as motivações por trás dessas mensagens e destaca as principais: dinheiro, ego, estatística, calúnia e difamação, trojan, falta de disciplina, enganar o público e atacar a rede. Para as pessoas bem intencionadas pode ser difícil de acreditar que existam pessoas capazes de obter ganho financeiro com a tristeza alheia. Mas isso existe muito mais do que se imagina. Cliff avisa que as mensagens motivadas pelo dinheiro costumam vir por correio eletrônico. "Esperamos que elas sejam direcionadas diretamente para a pasta dos spams, mas isso nem sempre acontece", diz. Já as motivadas pelo ego, segundo o especialista, tem a ver com sentimento de poder que os disseminadores vivenciam e são mais veiculadas através das redes sociais, porque atingem um grande número de pessoas rapidamente. A motivação estatística envolve as duas primeiras. "Algumas pessoas usam as redes sociais e esperam receber muitas marcações na opção curtir para alimentar o seu ego. Outras querem direcionar o tráfego para uma determinada página da internet e receber dinheiro por cada acesso. Isso é um tipo de marketing chamado affinity marketing", acrescenta.

A motivação calúnia e difamação também pode ser considerada cyberbullying, com o objetivo de destruir a reputação de uma pessoa ou organização. "Para mim, não há nada pior do que ver esse tipo de mensagem, especialmente quando envolve jovens praticando cyberbullying com outros jovens. Eu vigio muito as coisas que meus próprios filhos escrevem no Facebook, Myspace e Twitter, para ter certeza de que eles não praticam o cyberbullying", revela.

Uma das piores mensagens para se receber, segundo o especialista com 17 anos de experiência na área, são aquelas que contêm arquivos anexados com as extensões exe, com ou bat, que escondem um trojan, um tipo de programa malicioso chamado de Cavalo de Troia ou Trojan Horse, que invade os computadores e pode roubar informações pessoais como números de cartão de crédito ou contas e senhas de bancos. "O trojan também pode ser para conseguir dinheiro, já que exige que os usuários paguem para desativar o vírus que infectou o seu computador", adverte Cliff, acrescentando que a falta de disciplina dos usuários ajuda a espalhar as mentiras da internet. "Muitas vezes, as pessoas espalham mentiras  simplesmente porque acham que são verdades, não verificam antes de encaminhar ou curtir essas mensagens. Se tivessem disciplina, elas procurariam se certificar da veracidade das informações antes de divulgar".

Cliff Jordan, 17 anos de experiência em prevenção a fraudes.

Formas de verificação

Para se certificar se uma mensagem é verdadeira ou não, Cliff sugere a pesquisa em sites especializados ou até mesmo diretamente no Google. Se a mensagem for sobre crianças desaparecidas, o especialista avisa que existem sites no Brasil, onde podemos ver os nomes e fotos das crianças nessa situação. "No site http://www.desaparecidosdobrasil.org/ você pode fazer a pesquisa por nome", orienta e acrescenta que "ser cético ou incrédulo como motivação para verificar é bom. Podemos ter fé em Deus, mas é melhor não ter tanta fé nos homens", sugere. Como opções de pesquisa no assunto, Cliff mencionou vários sites, como por exemplo: movv.org/category/hoaxes-e-mitos-urbanos (em português), urbanlegendsonline.com (em inglês), www.mitos-urbanos.com.ar (em espanhol) e, por fim, o snopes.com (em inglês), que em minha modesta opinião, é bem ágil e eficaz, pois informa logo no início se a mensagem pesquisada é falsa ou não. "Entre 1997 e 1999, as mensagens chamadas de eRumors (boatos ou fofoca) começaram a ficar populares e um dos primeiros websites que tentava lutar contra esse tipo de mensagem era o www.truthorfiction.com. Atualmente, o mais usado é o snopes.com", conta.

Crime ou brincadeira

Questionado se os criadores dessas mensagens podem ser considerados criminosos ou apenas pessoas que gostam de brincar com a bondade alheia, Cliff é enfático: "os dois! Os criminosos são aqueles que sabem que o que estão espalhando é mentira e podem prejudicar pessoas ou organizações. Se o motivo é outro, talvez não seja crime, mas também não é ético", reflete. Sobre uma possível penalidade para as pessoas que repassam essas mensagens, Cliff diz que "depende da lei de cada país". Ele insiste que as pessoas devem sempre verificar a veracidade das informações que repassam. "Se não pode verificar, melhor não repassar", acredita. Para Cliff Jordan é importante a conscientização por parte das pessoas sobre assunto tão delicado. Ele, pessoalmente, prefere veicular mensagens positivas, ou, se forem críticas, que elas apresentem uma possível solução. "Assim, a crítica tem mais valor. Devemos tratar os outros na internet da mesma forma que queremos ser tratados", conclui.

quarta-feira, 6 de março de 2013

LADO A LADO na reta final!

Mais uma vez venho aqui para falar sobre a novela das 18 horas da TV Globo, Lado a lado. Ela está em sua reta final e vai deixar saudade. Não é uma saudade sofrida e chorosa de quem deseja que a novela nunca mais saia do ar, tornando esse folhetim de sucesso uma história arrastada. Não, não é isso. É uma saudade gostosa, aquela quando vivenciamos algo bom e gostamos de ficar lembrando. Sim, acho que é isso.

A novela começou timidamente, após o sucesso da anterior e foi conquistando seu espaço aos poucos ao  mostrar os encontros e desencontros dos dois casais de protagonistas, Laura e Edgar (Marjorie Estiano / Thiago Fragoso) e Isabel e Zé Maria (Camila Pitanga / Lázaro Ramos), como qualquer bom folhetim. Mas a novela mostrou muito mais que isso. Mostrou um período da história do Brasil em que não estamos acostumados a ver em novelas de época, o período após a abolição da escravidão. Isso foi um diferencial e tanto, ao menos na minha opinião. Tivemos a oportunidade de ver as dificuldades enfrentadas pelos negros recém libertos, abandonados pelas autoridades e vítimas do enorme preconceito da classe dominante e da população branca e pobre em geral, que também não aceitava o negro como parte do povo brasileiro, salvo raras e poucas exceções.

Marjorie Estiano e Thiago Fragoso como Laura e Edgar.













Lázaro Ramos e Camila Pitanga como Zé Maria e Isabel.












A situação da mulher no início do século foi outro ponto forte abordado pela trama de João Ximenes Braga e Claudia Lage. Igualmente vítimas de preconceitos inimagináveis, as mulheres do início do século XX sofreram muito para abrir os caminhos para as gerações futuras em uma sociedade machista e preconceituosa. Hoje, sequer lembramos que há muito pouco tempo atrás, as mulheres não podiam votar!  Através da personagem Laura vivenciamos as dificuldades das mulheres que queriam algo mais, além de cozinhar e cuidar da casa e do marido. A personagem sempre envolvida com os livros, luta para poder trabalhar no que gosta: dar aulas e, ao longo da trama, descobre sua paixão pelo jornalismo. E é nessa hora, que vemos a realidade vivida por várias mulheres naquele período. Muitas assinavam suas matérias com pseudônimos masculinos para que fossem publicadas. Outras chegaram a ser internadas como loucas em sanatórios por ousarem ir contra a ordem vigente, onde só o homem tinha direitos. Ao olharmos para trás, percebemos o quanto a sociedade evoluiu e o quanto já foi conquistado em vários segmentos.

Laura (Marjorie Estiano) sofrendo no sanatório, onde foi internada pela própria mãe.


Entre outros acontecimentos históricos, tivemos a oportunidade de vivenciar a chegada da luz elétrica, a expansão da telefonia, o crescimento e a formação das favelas nas partes altas da cidade, os morros, principalmente com os negros que lutaram na guerra de Canudos e os que foram expulsos dos cortiços da antiga Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco. Vimos a revolta da chibata. Vimos também o descaso  das autoridades com a população mais pobre através do episódio da revolta da vacina. Vimos o nascimento do futebol, inicialmente como esporte da elite, importado dos ingleses, o nascimento do samba e da cultura afrobrasileira, a prática da capoeira, enfim, tantos assuntos interessantes. Como disse em postagens anteriores, Lado a Lado foi uma novela que inspirava uma vontade de conhecer melhor a nossa história, de pesquisar, de discutir... Disse isso, quando fiz a postagem sobre as bebidas geladas em 1904 e a outra sobre o divórcio também em 1904. Lembram?

A trilha sonora também foi muito boa! Ouvi algumas críticas negativas para a diversidade de estilos, mas em minha modesta opinião, achei que as músicas se encaixaram perfeitamente com a narrativa e com os personagens. Quem discordar, pode se manifestar, o espaço é livre e, ao contrário da sociedade do início do século passado retratada na novela, hoje em dia a manifestação das opiniões é permitida para todos.

O elenco também foi de primeira! Patrícia Pillar, como a amoral e reacionária Constância brilhou por toda a trama. A invejosa Berenice, personagem de Sheron Menezes, também impecável. Caio Blat como o irmão bastardo de Edgar, outra atuação incrível. Cássio Gabus como o político e empresário corrupto Bonifácio. Mas não foram só os malvados que se destacaram. Milton Gonçalves brilhou na pele do ex-escravo Afonso. Impossível esquecer a cena em que o seu personagem pede perdão a filha Isabel no palco do teatro. Até aquele momento ele não havia perdoado a filha por ter engravidado antes do casamento e, principalmente, de um homem rico e fútil, que a enganou. Foi uma cena emocionante! Ambos pareciam mesmo estar sofrendo tanto. O herói José Maria dos Santos, o Zé Navalha, o barbeiro capoeira, que se torna administrador após a experiência na Marinha brasileira. De um jeito simples, Lázaro Ramos conseguiu mostrar através da integridade de seu personagem quem são os verdadeiros líderes e heróis. E não podemos deixar de mencionar aqui o casal Laura e Edgar, um sucesso. O casal tem até torcida nas redes sociais. O movimento se chama Laured e na página do Facebook podíamos saber as opiniões e as próximas emoções a serem vividas pelos personagens. Marjorie Estiano brilhou como a feminista e batalhadora Laura, sempre apoiada de perto pelo eterno apaixonado Edgar. Enfim, um elenco incrível! Me perdoem se esqueci de mencionar alguém, mas todos estão muito bem em seus papéis.

Patrícia Pillar como a amoral Constância Assunção.

A novela está chegando ao fim e não vamos ter tempo de ver resolvidas algumas questões como a da capoeira, para saber quando ela deixou de ser sinônimo de vadiagem e atividade só de negros. Talvez, também não iremos ver a popularização do futebol. Mas a sementinha já foi plantada e mostrada através do personagem Chico (César Mello), o capoeira e ex-marinheiro que se apaixona pelo futebol. Vai ter que ficar para uma nova oportunidade. Quem sabe...

César Mello, como Chico, que aceita se cobrir de pó de arroz para poder jogar futebol com os brancos.

Um último ponto que gostaria de destacar foi a dança de Isabel (Camila Pitanga). Na página da Globo, o coreógrafo Zebrinha conta que o show de Isabel não é um retrato fiel da dança naquela época, até porque não há um registro oficial. Bem, de qualquer forma, quando visitava a exposição sobre animação no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), no Rio de Janeiro, assisti um filme 35mm dos irmãos Lumière, com duração de 45 segundos, chamado Dança Serpentina (II), de 1897, onde a personagem dança de uma forma que imediatamente me lembrou o show de Isabel em Lado a Lado. Os movimentos, o figurino, enfim, muito parecido. Acho que vale a pena conferir, pois a semelhança é incrível!

Bem, meus caros amigos leitores, essas foram minhas impressões sobre uma novela que conseguiu ser romântica, emocionante e didática ao mesmo tempo. Meus parabéns aos autores, diretores, atores e a toda equipe de produção. Que venham mais novelas como essa.