Participei de um encontro no Colégio de Aplicação da UERJ (CAp-UERJ), no último sábado, que pretendia discutir o bullying no ambiente escolar. Nomeado "Bullying no CAp-UERJ - reconhecer para combater", o encontro propunha um bate-papo sobre a questão, que gera tanta polêmica e sofrimento àqueles que são vitimados pela prática. Mas foi mais que isso. A grande questão levantada no encontro foi "afinal, é brincadeira ou bullying?"
Para ilustrar o encontro, mediado pela professora Claudia Barreiros, coordenadora do projeto de combate ao Bullying através da identificação e reconhecimento do problema, foi apresentado o documentário "O Riso dos outros". Nele, vários humoristas, escritores, chargistas, comediantes, professores, escritores, blogueiros, entre outros, comentam o assunto e, em muitas situações, acirram os ânimos e nos fazem parar para pensar. Se puderem, não deixem de assistir. Eu recomendo. É excelente para reflexão.
"É só uma piada", disse o comediante Rafinha Bastos, alvo de uma grande polêmica envolvendo o tema estupro. Apoiado por alguns, como a também comediante Marcela Leal, o comediante Danilo Gentili, entre outros, a frase gerou também uma grande onda de protestos. "As piadas não tem um fundo de verdade. Elas são a verdade. São a verdade com o nariz de palhaço", disse o escritor Antônio Prata. "As liberdades têm limites", alerta o deputado Jean Wyllys, acrescentando que a nossa liberdade termina quando começa o direito do outro.
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"As piadas são a verdade com o nariz de palhaço". |
Acho que é exatamente aí que está o ponto. Talvez porque a maior dificuldade do ser humano, a meu ver, é se colocar no lugar do outro, sentir a sua dor. Quando não somos capazes de fazer isso, não conseguimos perceber onde está o limite do espaço do próximo. Não conseguimos perceber o que é divertido e o que pode ser uma agressão ou um grande sofrimento. E qual será o motivo de fazermos graça com o sofrimento, ou a condição em que se encontra o outro? Isso é realmente engraçado? "Eu me vendo por riso", disse o comediante Danilo Gentili, reforçando a ideia do "é só uma piada". Será mesmo que vale a pena ganhar o riso de muitos, em detrimento do choro de alguns?
Certo, até agora, o que vimos no encontro foi o despertar do tratamento dado ao bullying no humor. Afinal, é tão comum comparar e igualar o bullying a uma brincadeira. É só prestarmos atenção na popularidade dos nossos humoristas. Mas e no ambiente escolar? Sim, na escola, quando os envolvidos são crianças do primeiro segmento do ensino fundamental e tem, no máximo, 12 anos de idade? Para a professora Claudia Barreiros, não se deve criminalizar o praticante do bullying. É preciso entender as motivações para tentar parar o processo. Um fato interessante mencionado no encontro foi a questão do "alvo". Sim, por que algumas pessoas são alvos fáceis para os praticantes do bullying? O que determina o "alvo"? Segundo a professora, o alvo normalmente demonstra um grande "sofrimento" com a situação, o que só alimenta esse tipo de atitude. "Muitas vezes outros membros do grupo aderem à prática para não se tornarem alvo", alerta Claudia, acrescentando que muitos praticantes de hoje já foram vítimas no passado.
Bem, mas identificado o problema o que fazer? Segundo a coordenadora do projeto, o primeiro passo é conversar com os envolvidos, para fazê-los entender as implicações de tais atos. Se não adiantar, aí sim, os pais devem ser acionados. "Alguns pais dos praticantes do bullying ficam chocados ao tomarem conhecimento das atitudes do filho, porque sequer o imaginavam capaz de cometer essas ações. Num primeiro momento, negam. Depois, normalmente, querem punir severamente. E, ao final, buscam o entendimento através de conversas", explica a professora.
Pelo que pude observar no encontro, o processo para identificar e combater o bullying é longo e exige boa vontade de todos os envolvidos. Para o "alvo" é um grande sofrimento e passar por esse período pode acarretar situações imprevisíveis, como no caso da estudante que foi vítima de ciberbullying e acabou se suicidando.
Por tudo isso, por mexer com sentimentos profundos e grande sofrimento dos envolvidos é que precisamos estar atentos a questão. Em âmbito escolar, os educadores, inspetores e profissionais da educação em geral têm que estar abertos para ouvir os "alvos" e avaliar criteriosamente a situação. Eu mesma mencionei durante o encontro, que as crianças ou adolescentes vítimas do bullying devem sentir segurança no adulto que escolheram para relatar o problema. Caso contrário, as consequências podem ser extremamente prejudiciais. Mesmo no CAp-UERJ, onde o projeto de combate ao bullying é incentivado, contando, inclusive, com uma semana inteira dedicada ao tema, ainda há muito por ser feito. A mudança de hábitos e a conscientização não acontecem da noite para o dia. Mas o primeiro passo já foi dado. Para encerrar o encontro, Claudia Barreiros propôs uma palavra: "parceria!"
Continuemos a caminhar, então! Juntos, atentos e comprometidos. Sempre na busca do respeito ao próximo.