terça-feira, 6 de outubro de 2015

"É SÓ UMA PIADA!" (Bullying ou brincadeira?)

Participei de um encontro no Colégio de Aplicação da UERJ (CAp-UERJ), no último sábado, que pretendia discutir o bullying  no ambiente escolar. Nomeado "Bullying no CAp-UERJ - reconhecer para combater", o encontro propunha um bate-papo sobre a questão, que gera tanta polêmica e sofrimento àqueles que são vitimados pela prática. Mas foi mais que isso. A grande questão levantada no encontro foi "afinal, é brincadeira ou bullying?"


Para ilustrar o encontro, mediado pela professora Claudia Barreiros, coordenadora do projeto de combate ao Bullying através da identificação e reconhecimento do problema, foi apresentado o documentário "O Riso dos outros". Nele, vários humoristas, escritores, chargistas, comediantes, professores, escritores, blogueiros, entre outros, comentam o assunto e, em muitas situações, acirram os ânimos e nos fazem parar para pensar. Se puderem, não deixem de assistir. Eu recomendo. É excelente para reflexão.

"É só uma piada", disse o comediante Rafinha Bastos, alvo de uma grande polêmica envolvendo o tema estupro. Apoiado por alguns, como a também comediante Marcela Leal, o comediante Danilo Gentili, entre outros, a frase gerou também uma grande onda de protestos. "As piadas não tem um fundo de verdade. Elas são a verdade. São a verdade com o nariz de palhaço", disse o escritor Antônio Prata. "As liberdades têm limites", alerta o deputado Jean Wyllys, acrescentando que a nossa liberdade termina quando começa o direito do outro.


"As piadas são a verdade com o nariz de palhaço".

Acho que é exatamente aí que está o ponto. Talvez porque a maior dificuldade do ser humano, a meu ver, é se colocar no lugar do outro, sentir a sua dor. Quando não somos capazes de fazer isso, não conseguimos perceber onde está o limite do espaço do próximo. Não conseguimos perceber o que é divertido e o que pode ser uma agressão ou um grande sofrimento. E qual será o motivo de fazermos graça com o sofrimento, ou a condição em que se encontra o outro? Isso é realmente engraçado? "Eu me vendo por riso", disse o comediante Danilo Gentili, reforçando a ideia do "é só uma piada". Será mesmo que vale a pena ganhar o riso de muitos, em detrimento do choro de alguns?



Certo, até agora, o que vimos no encontro foi o despertar do tratamento dado ao bullying no humor. Afinal, é tão comum comparar e igualar o bullying a uma brincadeira. É só prestarmos atenção na popularidade dos nossos humoristas. Mas e no ambiente escolar? Sim, na escola, quando os envolvidos são crianças do primeiro segmento do ensino fundamental e tem, no máximo, 12 anos de idade? Para a professora Claudia Barreiros, não se deve criminalizar o praticante do bullying. É preciso entender as motivações para tentar parar o processo. Um fato interessante mencionado no encontro foi a questão do "alvo". Sim, por que algumas pessoas são alvos fáceis para os praticantes do bullying? O que determina o "alvo"? Segundo a professora, o alvo normalmente demonstra um grande "sofrimento" com a situação, o que só alimenta esse tipo de atitude. "Muitas vezes outros membros do grupo aderem à prática para não se tornarem alvo", alerta Claudia, acrescentando que muitos praticantes de hoje já foram vítimas no passado.



Bem, mas identificado o problema o que fazer? Segundo a coordenadora do projeto, o primeiro passo é conversar com os envolvidos, para fazê-los entender as implicações de tais atos. Se não adiantar, aí sim, os pais devem ser acionados. "Alguns pais dos praticantes do bullying ficam chocados ao tomarem conhecimento das atitudes do filho, porque sequer o imaginavam capaz de cometer essas ações. Num primeiro momento, negam. Depois, normalmente, querem punir severamente. E, ao final, buscam o entendimento através de conversas", explica a professora.

Pelo que pude observar no encontro, o processo para identificar e combater o bullying é longo e exige boa vontade de todos os envolvidos. Para o "alvo" é um grande sofrimento e passar por esse período pode acarretar situações imprevisíveis, como no caso da estudante que foi vítima de ciberbullying e acabou se suicidando. 



Por tudo isso, por mexer com sentimentos profundos e grande sofrimento dos envolvidos é que precisamos estar atentos a questão. Em âmbito escolar, os educadores, inspetores e profissionais da educação em geral têm que estar abertos para ouvir os "alvos" e avaliar criteriosamente a situação. Eu mesma mencionei durante o encontro, que as crianças ou adolescentes vítimas do bullying devem sentir segurança no adulto que escolheram para relatar o problema. Caso contrário, as consequências podem ser extremamente prejudiciais. Mesmo no CAp-UERJ, onde o projeto de combate ao bullying é incentivado, contando, inclusive, com uma semana inteira dedicada ao tema, ainda há muito por ser feito. A mudança de hábitos e a conscientização não acontecem da noite para o dia. Mas o primeiro passo já foi dado. Para encerrar o encontro, Claudia Barreiros propôs uma palavra: "parceria!" 

Continuemos a caminhar, então! Juntos, atentos e comprometidos. Sempre na busca do respeito ao próximo. 

20 comentários:

  1. Fatima adorei que a escola está preocupada com esse tipo de comportamento e chamou os pais para discussão. Como bem observado, nós temos por hábito alimentar a prática do Bullying na medida que achamos legal um comediante fazer piada sobre estupro, sobre a deficiência ou a inabilidade de alguém em alguma coisa, sobre a pessoa não estar de acordo com o padrão de estética socialmente aprovados. Infelizmente as crianças começam acordo prendendo isso em casa e o fato da escola chamar os pais para a discussão é importantíssimo para que essa prática bizarra seja extinta. Como sempre adorei sua postagem e o CAP - UERJ está de parabéns pelo trabalho.
    Bjs

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    1. Obrigada, Anastacia, por seu comentário! Você tem razão, mais do que qualquer coisa que dizemos, as nossas ações falam mais alto. As crianças reproduzem muito do que fazemos e nem percebemos. Valeu!

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  2. Eu sofri na pele isso que hoje chamam de "bullying". Eu era uma criança muito magra, então me chamavam de Olívia palito, parece duas agulhas no palheiro, magrela, e por ai vai. Me tornei uma criança tímida, insegura, com baixa auto estima; que me acompanhou durante toda a adolescência. Quando me casei e tive filhos, sequer concebia a ideia dos meus filhos serem magros. Então dava-lhes uma super alimentação. O que os tornou gordinhos, mas eu não via isso, eu achava lindo. anos depois tiveram que fazer regime e exercícios para emagrecer. esse meu depoimento é só para mostrar como apelidos estragam a vida de uma pessoa.

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    1. Excelente depoimento, cara Anônima! É como disse no texto, o que pode parecer brincadeira para uns, para outros pode ser motivo de grande sofrimento moral. É preciso aprender a se colocar no lugar do outro, não é mesmo? Obrigada por seu comentário!

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  3. Muito bom o texto, Fat, esclarecendo alguns pontos que talvez não sejam tão óbvios assim para a maioria das pessoas. Sob esse aspecto, também sofri vários tipos de bullying, desde aqueles associados a problemas de pele (apelidado de Mr. Espinha) a outros associados ao meu intelecto (ou falta de), tal como Nerd, CDF, etc. Confesso que isso nao deixou grandes sequelas no meu caso, mas dependendo da sensibilidade da criança em formação, pode ter resultados pela vida afora. Por outro lado, o texto suscita, de modo indireto, aquela questão sobre o que seria politicamente correto no mundo de hoje, onde várias barreiras foram quebradas, porém surgiram outras com efeitos que ainda não conseguimos dimensionar.

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    1. Fico feliz, Aldenir, que no seu caso, o bullying não tenha deixado sequelas. Porém vivenciar isso não é fácil, tenho certeza. É como disse anteriormente, precisamos aprender a nos colocar no lugar do outro, sentir a dor do outro.
      Obrigada por seu comentário e depoimento!

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  4. O bullying está mais presente do que nunca nas diversas situações na sociedade. E como bem mencionado no seu post, não enxergamos problemas quando não somos as suas personagens principais. Porém, cabe uma reflexão no sentido de até que ponto vale a pena uma "brincadeira" desta ser levada até ao extremo em que o alguém possa se sentir inferiorizado, ridicularizado e humilhado. Será que realmente vale a pena? Sorrir, ser alegre, achar engraçado, não pressupõe em menosprezar quem quer seja, temos vários motivos para a felicidade, pode ter certeza! Ótimo tema! Excelente Post!

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    1. É verdade, Cosme Luiz, o fato de achar engraçado, sorrir, ser alegre, não necessita do menosprezo a quem quer que seja.
      Obrigada por seu comentário e convite à reflexão!

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  5. Educação é o caminho! As crianças de hoje são maldosas e se divertem com a dor; a diferença e ou deficiência alheia. Não há empatia. E muitos pais ignoram enquanto o filho não se torna vítima! Tema sério. A motivação de uma criança pode ser o próprio sorriso; porém se houver diálogo ( o que hoje está cada vez mais distante; pois abaixo da pirâmide a dificuldade na educação e formação dos filhos; pois não há tempo, nem recurso para tal. Acima; o poder de capital faz com que se terceiriza a relaçã e a aproximadamente é feita via emprega ou educador que nunca fará o papel do pai ou mãe.) e orientação percebemos comportamento diferenciado. É só observar envolta; o que não me parece ser feito por assistentes sociais... Enfim; muito cuidado, levesa e sensibilidade. Pois podemos encaminhá-los ou desencaminha-los; o que queremos?! Precisamos nos fazer essa pergunta com um sentimento de que somos uma única sociedade...

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    1. Exatamente, "Eu Quero Liberdade", fazemos parte de uma mesma sociedade, somos todos cidadãos e como tal, temos direitos e deveres. O sofrimento de hoje de alguém pode ser o seu amanhã, através de um filho, um parente, ou mesmo um amigo querido.
      É como disse a coordenadora do projeto, precisamos entender as motivações para poder tratar o assunto em conjunto. Com boa vontade de todos os lados.
      Obrigada por seu comentário e reflexão!

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  6. Essa frase"sempre em busca do respeito ao próximo" faz refletir, o próximo começa na família. Se esta criança não vê a atitude de respeito dentro de casa, fica difícil entender que os amigos merecem respeito, fazem sem perceber a atitude reprovável. O melhor caminho é este,
    esclarecer em grupos escolares que, existe brincadeiras e "brincadeiras". Uma traz alegria, amizade, entendimento e partilha, outra tristeza, inimizade, desentendimento e decepção.

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    1. Sim, Daniel Azulay - Largo do Machado, a família é sempre um grande exemplo para tudo. Afinal, é o início da trajetória da criança.
      Esclarecimento e informação são muito importantes.
      Obrigada por seu comentário e reflexões!

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  7. Brincadeira onde somente uma parte se diverte e a outra sofre não é brincadeira, é crueldade gratuita e premeditada. A melhor maneira de se evitar o bullying, é com educação e sensibilidade. Ótimo texto minha querida! Parabéns!!!

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    1. Sim, Valéria Jacob, é como em uma relação comercial, o negócio tem que ser bom para ambos os lados. No caso da "brincadeira", se só diverte um dos lados, perde a graça, não é mesmo?
      Obrigada por seu comentário e opinião!

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  8. Bullying é um problema sério e envolve realmente todos. Filhos, pais e educadores. Excelente o texto, Fafá!!!

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  9. Não basta somente combater o bullying mas também o assédio moral que é o bullying praticado por adultos.

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    1. Qualquer prática que fira a integridade física ou moral de alguém deve ser combatida, Evertom Luppo. Seja em que ambiente for.
      Obrigada por seu comentário!

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  10. Eu morro de medo dos meus filhos sofrerem bullying, medo que eles não me contem o que esta acontecendo por vergonha ou ameaça. Se vejo um filme ou acontece algo faço questão de mostrar a meus filhos a não cometer tal coisa, a educação é muito importante. Mas temos que levar em consideração a índole da criança. Me lembro na escola que eu tinha um amigo obeso, ele era uma vítima em potencial dos colegas de classe, viviam pegando os seus cadernos e escondendo e jogando o estojo dele de um lado para o outro fazendo de ele bobo. Eu sempre o defendia, brigava com os colegas para defendê-lo. Ficavam com raiva de mim, me chamava de estraga prazer. Não faziam o mesmo comigo porque sabiam que iam levar umas porradinhas de leve...rs. Mas o meu amigo não, era tímido, quase não falava. Mas ninguém nunca me pediu pra fazer isso, nem minha mãe chegou a me falar nada a respeito, por isso falo de índole. Tinham colegas que não participavam, mas também não faziam nada para ajudar. Quem puder assista o filme "Um grito de socorro", eu quase morri de tanto chorar. É uma boa maneira de mostrar aos filhos as consequências dos seus atos. Adorei a matéria, só podia ter vindo de você Fátima.

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    1. Sim, Juana, pode ter certeza de que o seu receio é compartilhado por muitos. Por isso, mencionei no próprio encontro que a criança "alvo" tem que sentir segurança no adulto que escolhe para relatar o fato. Por essa razão, é que o assunto tem que ser debatido em todas as esferas, buscando sempre a conscientização e o comprometimento de todos.
      Obrigada por seu comentário e depoimento!

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