Há quem considere desnecessário comemorar o Dia Internacional da Mulher. Afinal, todos os dias são nossos. É o que dizem. Outros o acham imprescindível como forma de valorizarmos quem há muito não tinha voz.
É verdade, muito já se conquistou...
Por necessidades orçamentárias nos foi permitido trabalhar. Assim, assumimos a contribuição monetária ao orçamento familiar e continuamos com as nossas tarefas domésticas. Afinal, trabalho de casa é coisa ainda de mulher para muitos hoje em dia. Não tínhamos direito a voto, não tínhamos direito a opinião e até o famoso CPF (Cadastro de Pessoa Física) tinha o mesmo número do marido. E isso não faz tanto tempo assim. Uma amiga de 65 anos ainda conservava, até bem pouco tempo, o mesmo número de CPF do marido.
Pois é, o tempo passou e quando olhamos para trás, percebemos que já conquistamos muitas coisas. Mas ainda há muito por fazer. Continuamos travando pequenas batalhas diárias pelo respeito e reconhecimento. Ainda precisamos muito do amparo da lei para nos sentirmos seguras e com nossos direitos assegurados. Vejam o exemplo de alguns grandes centros urbanos, como o Rio de Janeiro, que estabeleceu o vagão rosa no Metrô, exclusivo para mulheres, vítimas de assédio, no horário do rush. Grande parcela da população não gosta dessa lei, até mesmo mulheres, pois a acham segregacionista e consideram que a educação e o respeito deveriam ser ensinados desde os anos iniciais na escola. Sim, educação é a base de tudo. Concordo. Até porque a criação dos tais vagões indica que consideramos os homens seres um tanto quanto irracionais, que não conseguem domar seus instintos. Porém, o trabalho junto às crianças só será percebido mais adiante. O que faremos com as vítimas do agora? Enfim, muitas vezes, medidas consideradas inadequadas visam proteger quem não tem como se defender em determinada situação. O debate continua.
Mas nesse dia em que comentamos sobre direitos adquiridos, lutas vitoriosas e sonhos que se realizaram, uma pessoa me veio a cabeça: minha mãe. Nascida durante os anos 1920, minha mãe, criada sob rígidos costumes, teve que deixar a profissão que amava, o magistério, logo após o casamento e a chegada repentina do primeiro dos seus cinco filhos. Não porque o marido a proibiu, embora nada fosse facilitado. Ela simplesmente não tinha com quem deixar meu tão querido irmão mais velho. Sua mãe, minha avó, lhe disse: "lugar de mulher é em casa cuidando do marido e dos filhos", sentenciou.
Assim, o magistério perdeu uma excelente professora e o lar ganhou uma das mães mais dedicadas, carinhosas, batalhadoras, amigas que eu pude conhecer. Muito antes ainda da minha chegada (sou sua quinta filha, a chamada temporão, nascida com uma diferença de quase dez anos para a minha irmã), a situação econômica da família se agravou e minha mãe teve que contribuir com as despesas da casa, como costureira, afinal era o que podia fazer com quatro filhos sob seus cuidados.
Os anos se passaram, outros trabalhos vieram, muitas lutas, muitas dificuldades e, finalmente, cheguei eu. Talvez eu tenha chegado em um dos seus momentos de maior turbulência, quando a situação financeira da família estava no ápice da dificuldade. Posso imaginar a angústia da minha mãe ao perceber que mais um membro ia agregar-se àquela situação difícil. Curiosamente, após a minha chegada, com os meus irmãos já crescidos, minha mãe foi trabalhar no ambiente que mais amava: uma escola! Não como professora e sim como responsável pela livraria da instituição. E o melhor de tudo, pode me levar com ela. Desta forma, tive a oportunidade de crescer em meio aos livros e ao lado da pessoa mais especial que conheci. Passava o dia na escola. Estudava pela manhã e no resto do dia, dividia meu tempo entre a biblioteca e a livraria. Ou, muitas vezes, brincando sozinha pelo pátio, pois meus amigos já tinham ido para casa.
Minha mãe trabalhou lá até se aposentar. Eu saí de lá para a faculdade. Não vou dizer que a vida foi fácil. Não. Em termos materiais, o dia a dia continuou sendo de muita luta. Mas fui feliz ali. Muito! Eu tinha ELA, minha mãe! Os livros! Os amigos que fiz para toda a vida!
Então, no dia em que todos celebram o nosso dia, as vitórias, as conquistas, eu decidi homenagear a ela. Nunca vi minha mãe queixar-se, gritar, maldizer. Algumas vezes, a percebi cansada, desanimada. Mas não podia esmorecer. Sua família dependia da sua força, da sua conduta. A dignidade, o caráter, o carinho, a dedicação, a suavidade forte fizeram da minha mãe um exemplo. De vida. De amor. Todo o meu carinho, todo o meu amor, todo o meu respeito são para você, MÃE!!!
Uma história de uma guerreira!
ResponderExcluirTão verdadeiro você a descreveu, ela é motivo de orgulho para todos nós os filhos. Ela merece todas as homenagens, pois foi uma guerreira.
ResponderExcluirLindo!!! Emocionante!
ResponderExcluirPosso afirmar categoricamente que poucas vezes, vi uma pessoa tão calma, suave e educada como a D. Anna! Muito gentil no seu jeito de ser, era extremamente amável e educadora por excelência. Em todas as suas atitudes era possível encontrar um aprendizado, um ensinamento. Honestíssima e incapaz de magoar quem quer que fosse. Mesmo as pessoas mais ácidas. Nos deixou um legado de amor e boa vontade. Conviver com ela, foi muito agradável! Tenho certeza, que ela continua com o seu jeito manso e polido de ser. Afinal de contas era especial...era Anna, mas, com dois Ns.
ResponderExcluirShow !!!
ResponderExcluirParabéns!
Cristiana
Emocionante esse texto, Fafá! Você é uma pessoa afortunada!
ResponderExcluirFatima,
ResponderExcluirParabéns, pela emoção transmitida em suas palavras.
Rita
Nossa, falar da nossa mãe é lembrar de suavidade ao falar,do agir e dos exemplos demonstrados sem falar uma única palavra. Minha mãe teve uma vida difícil, trabalhou muito, mas seus filhos seguiram o exemplo dela, de honestidade e caráter. Me deu uma saudade dela Fátima, você falando assim. Ela merece e muito ser homenageada Mãezinha onde estiveres receba dessa sua filha um forte abraço e um beijo cheio de saudades e muito amor. Nitinha.
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