quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

"A caça".

Uma amiga me sugeriu que assistisse a um filme considerado por ela muito interessante. Perguntei do que se tratava. "Pedofilia", definiu ela. "Tema delicado", argumentei. "Muito, mas sei que você vai gostar, principalmente porque nós estamos sempre atentas as injustiças", incentivou.


Era domingo. Dia de folga. Então, decidi separar um pedacinho do meu atribulado dia de "folga" para assistir ao filme. Não me arrependi. Gostei muito da história, principalmente pelas reflexões que a trama desencadeia e são essas impressões que gostaria de compartilhar com vocês.


"A caça" é um filme dinamarquês, co-produzido pela Suécia e que estreou em Cannes, em 2012, arrebatando o prêmio de melhor ator para Mads Mikkelsen, que interpreta Lucas, um dos monitores da creche local, acusado injustamente de abuso sexual.

Mads Mikkelsen, prêmio de melhor ator em Cannes.


Até aí parece mais um filme onde veremos o personagem central ser massacrado e protagonizar um destino sombrio. Mas o filme é muito mais que isso. Com uma narrativa mais lenta, sutil, que prioriza o detalhe, o olhar, o filme vai inserindo o telespectador no universo do cuidadoso e afetuoso monitor da creche, que vive um dilema pessoal após o conturbado divórcio. A relação com a ex-mulher é turbulenta e parece carregada de mágoas, mas o motivo da separação não fica muito claro ao longo da história e essa relação difícil confunde o telespectador sobre o caráter de Lucas. Mas só durante um tempo, já que logo em seguida, o filho adolescente decide ir morar com o pai, o que reforça a característica do bom relacionamento que Lucas mantém com crianças e adolescentes. É justamente nesse momento de felicidade para o protagonista, que a denúncia do abuso vem à tona.

Lucas mantém uma "amizade" mais próxima com a pequena Klara, filha do seu melhor amigo, que presencia constantemente brigas entre seus pais, o que a faz se aproximar do atencioso monitor. Todo o tempo percebemos o tratamento adequado que Lucas dá a criança, mas em dado momento ela se aborrece por ele tê-la repreendido, mesmo carinhosamente, e acaba contando uma história de "abuso" baseada em cenas de um filme erótico, mostrado a ela por seu irmão adolescente.

A partir daí, a vida de Lucas vira um verdadeiro inferno na terra. 

A pequena Klara é repreendida pelo "amigo".


O que me chamou muito a atenção no filme foi a questão do pré-julgamento. Como podemos acabar com a vida de alguém do dia para a noite, apenas por condenarmos antes mesmo de nos certificarmos e investigarmos criteriosamente. O filme estabelece a ação em uma pequena comunidade, agora imaginem vocês, o efeito que um pré-julgamento pode causar em um mundo globalizado como o nosso, onde as redes sociais são capazes de disseminar uma informação, seja ela falsa ou verdadeira, em segundos. 

O que mais incomoda no filme é que qualquer um de nós pode agir como aquelas pessoas da história, principalmente porque a situação apresentada envolve personagens tão frágeis como as crianças. Que pai ou mãe não pensaria em "destruir" alguém capaz de fazer maldades com os seus filhos? Quantos casos temos tido notícia de que as pessoas fizeram "justiça" com as próprias mãos? Inúmeros. Mas as instituições existem para isso, certo? Mas será que as pessoas responsáveis por cuidar desses assuntos estão mesmo preparadas para tal função? Será que nós estamos preparados para aguardar o desfecho das investigações de casos como esse? Até que ponto a palavra de uma criança deve prevalecer? Qual seria o limite? Quem poderia atestar melhor o que é real e o que é fantasia de criança?
Questões difíceis, não é mesmo? E o filme mexe com todas elas. Ninguém fica imune ao conteúdo exposto na trama. Ninguém.

Confronto de olhares entre os antigos amigos.


Vale a pena assistir. Mas o desfecho deixa uma dúvida. Será que o personagem conseguiu ser inocentado no interior do coração das pessoas e não apenas pela justiça? Será que ele mesmo se sentiu inocentado pelas pessoas do lugar? Ou será que ele nunca vai conseguir se livrar do trauma de ter sido perseguido injustamente? A cena final é imperdível!

Se puderem, assistam. E me contem se conseguiram encontrar todas as respostas.

Bom filme!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

CRÔNICA DO DIA: NA CALADA DA NOITE...

O país está de luto. 

Impossível ficar imune a tristeza que assolou os corações brasileiros após a tragédia com o avião, que transportava todo o time do Chapecoense. Os corações solidários ainda se mantêm em vigília pelos poucos sobreviventes do acidente, que ainda estão em estado crítico.


Mas enquanto os corações solidários permanecem atentos ao sofrimento das famílias das vítimas, o Congresso Nacional e o Senado agiram sorrateiramente e por pouco não selaram um destino sombrio para todos nós. 

A Câmara dos deputados aprovou, com significativas alterações, o pacote das medidas contra a corrupção. Até aí tudo bem, certo? Errado! A aprovação com as alterações aconteceu na surdina, na "calada da noite", como disse uma amiga, enquanto o país chorava a morte dos envolvidos no trágico acidente aéreo. 

Logo em seguida, Renan Calheiros, presidente do Senado, que ainda hoje pode se tornar réu no STF por falsidade e peculato, colocou em pauta a urgência para se votar o projeto com as tais medidas contra a corrupção, aprovado horas antes pela Câmara. 

A manobra é assustadora!
Por que tanta pressa? 

Um pacote como esse, tão importante para todo o país, que tem sido bombardeado pelos sucessivos escândalos envolvendo o mau uso do dinheiro público, merece mais atenção e cuidado, além de muita discussão com toda a sociedade. 

Renan não foi bem sucedido na manobra e a "urgência" do projeto perdeu no Senado por 44 votos a 14. Aguardaremos os próximos capítulos.

Mas o comportamento do Congresso brasileiro assusta. O comportamento dos parlamentares é dissonante da vontade popular, não atende o clamor das ruas, do povo do seu país. Mas eles permanecem cegos e surdos, insistem em não querer ver o que está diante dos seus olhos. O povo não deseja mais uma classe política distante, imune e privilegiada. Isso não vai funcionar mais. Com certeza não!

A votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff deixou claro o que está em jogo para eles. Durante as apresentações teatrais, algumas até mereceriam prêmios, ficou claro que não é o "nosso" bem, isto é, o bem comum, que os interessa. 

Mas o que mais assusta mesmo é que eles parecem não perceber o prejuízo que podem causar a nação. Não percebem que podem jogar o país na escuridão novamente. Agindo como agem favorecem as manifestações e ações mais radicais. Isso é preocupante! 

Precisamos fazê-los acordar, antes que seja tarde demais e venhamos a chorar sobre o leite derramado. Mais uma vez. 

Que Deus proteja o Brasil! 
Que Deus proteja nossas instituições! 
Que Deus proteja nosso povo! 

E que sejamos todos juntos, motivados e mobilizados, a luz para iluminar o pensamento daqueles que estão na posição e podem fazer alguma coisa por todos nós! 

Por TODOS nós!!!