segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Conto inédito: CEGUEIRA LUMINOSA!!!

Conforme prometi anteriormente, abaixo segue o texto de outro conto de minha autoria, ainda inédito. Decidi tirá-lo da gaveta  e publicá-lo aqui no Blog, em primeira mão, para vocês, caríssimos leitores.

Ao contrário do outro, a personagem central não é mais uma menina e sim uma mulher que descobre, de repente, que a sua vida era tão...

Bem, não vou contar. Leiam e descubram por si mesmos como se deu a CEGUEIRA LUMINOSA de Anna em um dado momento de sua vida.


Cegueira luminosa

Anna caminhava lentamente pelo corredor do trigésimo terceiro andar do Edifício Avenida Central. Braços largados, olhar perdido, pensamento distante, sem controle...
Apertou o botão do elevador mecanicamente. Parecia que carregava o mundo nas costas. Queria correr. Não podia. Não conseguia. Ganhou a rua. O Largo da Carioca fervilhava, pessoas apressadas indo e vindo. Só Anna parecia não ter pressa. Mas tinha. Suas pernas é que não obedeciam. Precisava chegar ao Edifício De Paoli. Acabar logo com essa agonia. Fazer o que tinha que ser feito. Não podia mais retardar. Precisava tomar uma atitude. Enquanto lutava contra a lentidão de suas pernas, olhava o muro branco do Convento de Santo Antonio. De repente parou. Levantou vagarosamente os olhos, que passearam pelas paredes brancas até visualizar a igreja lá no alto.
            Foi nesse momento que uma luz forte, intensa e extremamente branca a cegou. Cambaleou. Foi como se todo o mundo ficasse branco de repente.
E esse momento de cegueira luminosa trouxe à tona lembranças que preferia esquecer.
            Rememorou fracassos, insucessos, incertezas, angústias... Não conseguia lembrar de nada que a havia deixado feliz um dia. Era como se essa luz branca, estonteante, lhe mostrasse o quão sem cor, sem vivacidade havia sido a sua vida.
            Ao longo dos muitos anos em que esteve casada esqueceu-se de si mesma, dos seus sonhos, dos amigos. Dedicou-se aos sonhos do marido, vivia para fazê-lo feliz. Trabalhava como secretária. Era competente, dedicada, mas não gostava do que fazia. Apenas trabalhava. Para ajudar o marido com as despesas, para que ele pudesse estudar e se especializar mais. Para que ele pudesse continuar sonhando.
Os anos se passaram e, sem que Anna percebesse, a solidão se tornou sua melhor amiga. Já quase não via o marido. Ele tinha tantos afazeres, tantos projetos... Os amigos já não a procuravam mais.
O outono chegou e como as folhas que caem, caiu também por terra o casamento de Anna. Sem maiores explicações, ele partiu para viver sua nova paixão.
Foi como se tivessem cortado a língua de Anna. Emudeceu de tristeza.
Um mês se passou.
O chefe não aguentou mais os devaneios, os esquecimentos e a falta de interesse de Anna por tudo que estava a sua volta. E naquela fria manhã de outono, Anna foi demitida. Não esboçou reação. Estava em estado de choque. Seus pensamentos surgiam velozes e furiosos. Mas o corpo de Anna não conseguia acompanhar a intensidade e rapidez de sua mente. E enquanto guardava suas coisas lembrou-se do irmão de uma amiga que desistiu de viver e se jogou de uma das janelas do Edifício De Paoli. Decidiu-se. Não havia razão para seguir em frente. Não via nada a sua frente, só a solidão. E se dirigiu para o prédio vizinho.
Surpreendida pela luz alva e radiosa, que invadiu o céu daquela manhã de outono, Anna viu os seus planos sombrios serem interrompidos.
De repente a luz diminuiu sua intensidade e Anna, caída sobre a calçada de pedras portuguesas do Largo da Carioca, pode vislumbrar um pedaço do céu de um azul profundo do outono carioca. A nuvem branca e extremamente densa que tentou apagar a cor do céu da cidade maravilhosa começou a se dissipar. E com ela os sombrios pensamentos de Anna.
Anna ainda pôde ver o trevo de quatro folhas formado pelo poste de luz alto, majestoso, que parecia tocar o céu. Era um sinal. Anna levantou-se, sacudiu a roupa e andou. Andou a passos lentos, porém firmes. Passou reto pelo De Paoli. E seguiu em frente.

(Registrado no EDA - Escritório de Direitos Autorais  - sob o número 520.574, livro 988, folha 16)

10 comentários:

  1. Adorei o texto. Da vontade de saber como ela ficou. Quais os seus sonhos ? Se reencontrou os amigos...
    Muito bom mesmo !!!!

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  2. Muito bom!Continue , estou curiosa!Esse texto mostra realidade de muitas pessoas que esquecem suas vidas em benefício de outras e realmente acabam sozinhas, bjs

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  3. Interessante a relação dos problemas do cotidiano com o “místico”.
    De repente tudo da errado e por nada aparece uma luz !
    Assim é a humanidade.
    Precisamos de mais contos minha amiga, rs, grande abraço!
    WP

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  4. Adorei o conto! Senti junto com a personagem sua angústia (a gente se identifica aqui e ali com ela). Em poucas linhas tudo foi dito. Lindo! Parabéns, Fafá!!!

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  5. Muito bom o texto! Adorei. Bjs, bjs. Flavia Maria.

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  6. GOSTEI MUITO. VÁRIOS TEMAS ABORDADOS, EM LINGUAGEM SIMPLES. FIQUEI CURIOSA COM OS NOVOS RUMOS DA ANNA. BJS.L VÁ EM FRENTE. TEREZA VIEIRA

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  7. DANIELE MATTOS ALBERICH21 de novembro de 2012 às 18:36

    Beléssimo texto!Quero saber mais sobre Anna,continue!Abraço.

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  8. É... Interessante como da cegueira surge a luminosidade - radiante! Grande lição de como a cegueira seja por amor ou idealismo, pode ser fatal: Anna deixou sua própria vida, para seguir os sonhos alheios - sonhos que passaram a não fazer parte dos seus próprios sonhos, pela falta de vida própria que ela mesma se impôs! Sorte a dela que ainda pode se beneficiar da luminosidade que foi o enxergar o quanto se anulou durante tantos anos e que ainda tinha tempo de viver - ser ela mesma! Quanta gente não tem essa "clarividência"? Sinal de que para alguns, depois da tempestade, só pode mesmo vir tempos de bonança! Vai ser, vai ser, vai ter que ser!!!

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  9. Puxa, achei muito legal, só queria saber o que aconteceu depois com Anna. Beijos minha querida irmã que tanto amo. NITINHA.

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  10. Puxa, que barato. Fiquei com o coração miudinho, aqui! :D

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